quarta-feira, 30 de junho de 2010

Rimas de saudade*


No médico:

- Doutor, estou sentindo uma rima terrível.
- Onde é que dói?
- As vezes no peito, as vezes na cabeça.
- E o que a senhora faz quando dói muito?
- Quando não aguento mais, eu faço um poema.
- E desde quando lhe acontecem essas rimas?
- Desde sempre Doutor. Desde antes do ventre da minha mãe.
- Deixe-me ver sua língua.
-O senhor não leve a mal, mas é língua apenas portuguesa, e poucas pessoas prestam atenção a língua portuguesa.
- A senhora conhece matemática?
- Só de nome.
- Realmente é mais grave do que eu pensava. A Senhora tem sentido algum soneto?
- Só de manhã, quando eu vou dormir de estômago vazio, porque passei a noite toda a escrever.
-Entendo. Não admira que a senhora tenha escrito tantos textos recentemente. Vou receita-la uma dieta. Mas antes disso deixe-me pergunta-la: a Senhora tem algum vicio?
- Eu amo um homem.
- Há muito tempo?
- A vida toda.
- A Senhora é o caso mais grave de poesia que eu já vi até agora. Preciso consultar uns colegas.
- O que eu faço Doutor?
- Tome duas estrofes e me telefone amanhã cedo sem falta.

(apaixonei)




1 comentário:

  1. Texto muito nice! Muito bonito! Maravilha! Adorei mez. Vou esperar pelo próximo episódio.

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