quarta-feira, 7 de julho de 2010

Naquele restaurante*


Casados eles não pareciam ser e aquele jantar cedo, num restaurante modesto, comum, era muito bom de se ver.

Estavam sentados um ao lado do outro, e parecia claro que não iriam para a mesma casa depois do jantar, não dormiriam nem acordariam juntos. Por isso, talvez, tinham tanto a dizer um ao outro. Ela às vezes passava a mão no pescoço dele com caricias lentas, daí a pouco ele devolvia o carinho e segurava a mão dela num gesto rápido, isso por cima dos pratos, sem que nada fosse fora de propósito nem inadequado, como nunca são os gestos que saem do coração.
Não havia entre eles aquele clima de urgência que se nota nos casais de hoje em dia, a pressa de acabar o jantar rápido para depressa chegarem ao quarto. Muito pelo contrário, eles pareciam apaixonados pela conversa, pelo toque, pelo barulho dos talheres. Como se tivessem escolhido o restaurante a gosto para ficarem juntos um pouco mais pelo prazer da companhia um do outro. E os carinhos trocados não eram os da paixão, mas os do amor; de um amor sólido e profundo.

Eles falavam, e os assuntos não eram esses de namorados; falavam de tudo, interessados um no que o outro dizia, trocavam idéias como se fossem dois grandes amigos, o que é raro entre homem e mulher.

Ele talvez falasse de algum novo cliente que chegou a empresa, ela talvez de algum acordo assinado no escritório, ou do problema de uma amiga; aí, de repente, um carinho - sem olhares melosos, nada. Apenas a necessidade de tocar no outro, só isso. Estavam ali, inteiros, muito próximos e muito seguros.

Ela não era nem extremamente bonita, nem com um corpo excessivamente chamativo, nem ele. Eram pessoas absolutamente normais,. Mas naquela mesa pequena daquele restaurante banal havia tudo o que uma mulher e um homem podem querer um do outro: confiança, amizade, amor, paixão - mesmo que discreta -, sexo bem resolvido e segurança. Eles iriam se separar daí a pouco, sentiriam falta um do outro, mas sem angústia ou desespero, sabendo que se encontrariam de novo no dia seguinte ou na semana seguinte, confiando no seu próprio desejo e no do outro, porque aquele amor tinha essa coisa tão rara nos amores em geral: era sólido.

Ele pediu a conta, os dois saíram abraçados normalmente; na esquina,beijaram-se rapidamente, e ela entrou no carro, enquanto ele a observava. Ela foi dormir pensando nele, ele pensando nela, e eu pensando neles. Pensando e imaginando quantas pessoas, neste mundo de tantas paixões, vaidades, ansiedades, desvarios, terão tido a sorte de viver um amor assim tão bom.

Não, o amor não é lindo, como se diz banalmente: o amor é muito bonito quando é de verdade, e o deles era.



3 comentários:

  1. Lindo. Amei. Adorei... eish nao sei se é do momento da minha vida que leio isso, mas é perfeito. É isso que quero para mim.. um dia. :) **

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  2. um amor como eu so ja vi parecido nos contos de fadas da disney ..

    *
    muito bonito ..

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  3. Isto chama-se clone de sentimentos. E acho que esse tipo de clone também é proibido por lei. Como é que se explica que o que sinto e penso, encontro escrito no teu blog! Nem podes negar que tens alguma porção mágica para chegares à minha mente sem credenciais. Qual foi a vidente que te passou essa informação? Já não se pode ter privacidade de pensamentos! Afinal... é assim que consegues me fazer feliz, não é? Usas a telepatia do amor que sentimos para escreveres precisamente o que se passa na minha mente. Mas que coisa!!! Sinceramente amo-te verdadeiramente.

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