quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A janela dos outros


O livro Nietzche chorou, A cura de Schopenhauer conta a história de uma paciente que tinha um relacionamento dificil com o pai. Quase nunca conversavam, mas surgiu a oportunidade de viajarem juntos de carro e ela imaginou que seria um bom momento para se aproximarem. Durante o trajecto o pai que estava ao volante comentou sobre a sujeira e degradação que acompanhava a estrada. A garota olhou pela janela e do seu lado so viu aguas limpidas, um cenário Walt Disney. E teve certeza que ela e o pai realmente não tinham a mesma visão da vida. Seguiram viagem sem trocar mais palavras.
Muitos anos depois essa mulher fez a mesma viagem, pela mesma estrada, dessa vez com uma amiga. Estando agora ao volante, ela surpreendeu-se: do lado esquerdo tudo era feio e poluido, como seu pai havia descrito, ao contrario do belo rio que ela via do lado direito. E uma tristeza profunda se abateu sobre ela por não ter levado em consideração o comentario do pai, que já havia falecido nessa altura.

Se repararmos bem isto acontece todos dias: só temos olhos para o que mostra a nossa janela, nunca a janela do outro. o que vemos é o que vale, não importa que alguem bem perto esteja vendo algo diferente. Cada um gruda o nariz na sua janela, na sua propria paisagem.

Eu costumo dar uma espiada no ângulo de visão do vizinho. Me deixa menos enclausurada nos meus próprios pontos de vista, mas em contrapartida me tira a certeza de tudo. Dependendo de onde se esteja posicionado a razão pode estar do nosso lado, mas a perderemos assim que trocarmos de lugar. Só possuindo uma visão de 360 graus para nos declararmos sábios. E a sabedoria recomenda que falemos menos, que batamos menos o martelo e que sejamos menos enfáticos, porque todos estão certos e todos estão errados em algum aspecto da análise.

É o triunfo da dúvida.

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