segunda-feira, 8 de março de 2010

Notebook.*


Tempo houve em que eu sabia escrever

Tempos em que o papel era o meu melhor amigo.

Letras e palavras que formavam frases.

Frases que formavam textos.

Textos que transformavam as pessoas.

Tempo houve em que eu sabia escrever.

Hoje é inutil tentar.

Hoje as letras , e as palavras resumem-se no teu nome. Escrevo somente nas linhas do teu corpo.

O meu papel, antes meu melhor amigo, olha p ti com ciumes. Afinal,tiraste-lhe o lugar.

Nem sequer pediste licença. Chegaste sorretariamente, como quem se enganou na porta. Chegaste como quem nem veio pra ficar, e ocupaste as frases que antes pertenciam aquela folha de papel.

Eu as vezes pego nela. Limpo-lhe a poeira. Peço desculpas pelo tempo que fico sem a visitar. Ela faz cara de quem compreende. Mas já se cansou das minhas desculpas.

Eu pego nela e rabisco algumas coisas. Assim sem pensar. Rabisco. Daquelas coisas chamadas 'coisas sem pes nem cabeça'.

Mal me dou ao tempo de acabar o emaranhado de palavras ,e o papel voa. Assim do nada. Sai dos meus dedos e vai parar ao lado da mesa, como quem pede para ser deixada em paz. Não desisto. Vou atraz dela. Já passamos por muita coisa juntas. Ja partilhams muita coisa. Desta vez eu quero recuperar o que perdemos.

Agarro-a com força. Quase machucando-a. Ela tenta se soltar, mas apanho-a no vento. Pego na caneta para continuar a fazer o que sempre fizemos: partilhar sentimentos. E é ai que percebo. Na confusão de palavras que insisti em rabiscar, todas diziam respeito a nós, a ele , a mim, ao amor. Por isso deixo-a ir.

Ela sabia que chegaria o dia em que eu teria com quem dividir as tristezas, alegrias, emoçoes, novidades, duvidas. Ela sabia.

Fiquei a olhar, enquanto ela se ia e contava a todos a nossa historia.

Os pedaços dos momentos que passamos se espalharam, e toda gente perguntava pra ela: onde esta a tal pessoa descrita nessas linhas? . E ela respndia : conheceu o amor. O amor? perguntavam uns. O amor respondia a folha. Antes ela precisava de mim para a aconselhar quando os amores eram desfeitos, para lhe amparar quando via os pedaços do seu coraçao , para lhe erguer quando um novo começo significava mais uma vez um fracasso. Hoje ela tem os braços dele para a amparar, a boca que a beija todos dias para a aconselhar, e amor dele para a erguer caso ela um dia caia. Fui mãe , ensinei-a a ter forças suficientes para aguentar as perdas. Fui mãe.

Hoje deixo-a escrever e criar frases nele.. só nele.

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